Langhishing, um estado de apatia e vazio
O ser humano é movido pelo tempo que vive! Segundo Aristóteles, todo movimento se dá em um determinado tempo e este nunca teria fim, já que o movimento também não cessa e é o que nos permite compreendê-lo.
A pandemia trouxe um tempo de muitas incertezas, afetando o ser humano diretamente e de forma diversificada. Muitos de nós sentimos perdidos, desestabilizados emocionalmente diante da caminhada da vida, seja através da depressão provocada pela perda de entes queridos, pelo esgotamento provocado pelas notícias mundiais e locais, tristeza com os projetos adiados, incerteza do futuro, o afastamento dos laços afetivos e sociais e de toda rotina descontruída.
Foi neste terreno que surgiu o languishing, termo descrito pelo psicólogo organizacional Adam Grant. Houve uma explosão de pessoas que estavam se sentindo apáticas, desmotivadas, num limbo emocional que não era característico da depressão ou do estado de tristeza. Os sintomas também não estavam no campo da ansiedade ou do Bournout.
A palavra inglesa Languishing, que tem sido usada no Brasil como “abatimento” ou “apagamento”, que significa não se sentir bem e também não conseguir nomear com clareza o sentimento que está presente.
Em outras palavras, ele é um estado emocional de vazio, definhamento, enfraquecimento paulatino e abatimento emocional que se caracteriza longe dos extremos. Ou seja, a pessoa não se sente feliz e nem triste, há uma ausência de palavras para nomear o que está sentindo: é um estado de apatia.
Também não é um estado neutro e está longe de ser positivo, é como uma espécie de limbo emocional, em que se sente a ausência de emoções claras para qualificar e nomear o está sentindo.
Neste quadro, há uma ausência de visão e perspectiva de futuro, desmotivação do trabalho e de outras tarefas e perda da produtividade.
Vale ressaltar que, anteriormente, já havia algo próximo às queixas desse tipo de apatia, mas eram vistas como pontuais e individuais. A pandemia impactou toda humanidade e a queixa do sentimento de apatia passou a ser um processo comum na população mundial.
Neste caso, as mulheres preenchem maior parte do percentual de pessoas com esse transtorno mental, pois, por mais que a sociedade tente ser mais justa atualmente, recaíram sobre elas os excessos de tarefas que precisaram ser acumuladas nos últimos anos: filhos, escola dos filhos e ainda dar conta dos afazeres domésticos.
Sempre falo que o ponto inicial para a cura de qualquer doença e estado é o conhecimento e reconhecimento do problema. A partir deste ponto é possível iniciar o processo de melhora.
Nomear aquilo que se sente, dar voz e olhar para as emoções, caminha junto a este estado de transformação.
Outro ponto necessário, é de se ancorar no aqui e agora. Significa dizer você pode e deve se planejar, mas é importante que viva o tempo presente. Proponha-se a realizar as tarefas planejadas para cada dia, observe atentamente cada passo realizado, as crianças são grandes mestres em fazer isto, observe-as. É importante adequar as expectativas ao que realmente é possível realizar, a cada objetivo, fatie cada um, vá devagar.
E dedique um tempo só para você. Saia para passear em algum lugar que gosta, ouça música, tenha um hobby, veja filmes que sempre te interessaram, faça cursos que tragam realização pessoal, converse mais com você mesma (o), etc.
Adam Grant assenta que uma forma de combater o problema é utilizando a seu favor o estado de Flow (Fluxo). Vale ressaltar que o Estado de Flow é um termo cunhado pelo autor da psicologia positiva, Mihaly Csikszentmihalyi.
O Fluxo é um estado mental que ocorre quando uma pessoa se sente 100% incluída e absorvida na tarefa que está sendo executada. Onde há uma sensação de energia, prazer e foco total no que está fazendo. Em essência, o flow é caracterizado pela imersão completa no que se faz, e por uma consequente perda do sentido de espaço e tempo.
Resgatar os seus projetos, transformá-los conforme a sua realidade atual, buscar crescimento pessoal e profissional, buscar atividades físicas são pontos a serem reabsorvidos em uma dinâmica em que tudo se perdeu.
Vale ainda lembrar, que quando entramos no estado de apatia e de vazio, diz respeito às circunstâncias onde estamos inseridos e não somente do que está passando em nossas mentes. Por isso que é preciso cuidar da rotina, cuidar do que se faz, como se faz.
Caso você tenha identificado que está sintomas relacionados ao Langhishig, segue um breve questionário para ajudá-lo(a) a refletir sobre o seu estado mental.
Marque com um X as afirmações que se aplicam a você:
( ) Sinto um sentimento de “vazio”
( ) Sinto-me apático(a)
( ) Não me sinto feliz e nem triste
( ) Sinto-me exausto(a)
( ) Tenho dificuldade de nomear o que estou sentindo
( ) Não consigo planejar o futuro
( ) Sinto falta de perspectiva em relação ao futuro
( ) Pensar no futuro me perturba
( ) Tenho sentido apatia frente à vida, a mim e/ou às tarefas diárias
( ) Sinto que a minha vida está estagnada
( ) Estou insatisfeito com a minha vida
( ) Sinto dificuldade para realizar tarefas
( ) Não sinto motivação no meu trabalho
( ) Não consigo ter uma visão positiva da vida
( ) Sinto que não estou progredindo
( ) Sinto-me sem rumo
( ) Sinto-me sem propósito
Caso você tenha marcado com um X predominantemente nas respostas acima, busque ajuda de um psicólogo para ajudá-lo.
Esse questionário não tem o caráter de diagnóstico, essa parte compete ao profissional de saúde mental.
Se você acredita que alguém possa estar passando por um processo de Langhishing, converse e leve informação até esta pessoa.
A conscientização do problema é o primeiro passo para a cura.
Cuide-se.
Autoconhecimento e nossos pensamentos