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A depressão e os tempos atuais

A depressão e os tempos atuais

A depressão e os tempos atuais

A depressão não é uma doença atual e os sintomas desta doença sempre foram vistos na humanidade em diferentes períodos da nossa história.

É perfeitamente normal sentir-se triste, infeliz ou chateado com situações estressantes do dia-a-dia. A diferença é que, pessoas com depressão sentem essas sensações com constância por meses ou por anos. 

Ela é um transtorno de humor que gera tristeza profunda, perda de interesse generalizada, falta de ânimo, de apetite, ausência de prazer e oscilações de humor que, em alguns caso, podem culminar em pensamentos suicidas.

 

Convido para a reflexão de que uma pessoa com depressão nem sempre possui o sintoma clássico conhecido pela comunidade, que é a tristeza profunda e totalmente  aparente. Essa ideia nos traz sempre aquela imagem característica de uma pessoa deitada numa cama, abatida e chorando. Existem alguns quadros de depressão marcados pela irritabilidade.

 

Mas de que forma o estilo de vida atual contribui para o aumento de pessoas com depressão? Será mesmo que a vida que levamos hoje contribui para o desenvolvimento da depressão?

O mundo não é mais o mesmo e as relações sociais vêm mudando de forma veloz. A identificação de práticas culturais relacionadas à depressão no mundo atual nos dão pistas de como os comportamentos produzem e sustentam efeitos benéficos e maléficos para a sociedade.

É importante ressaltar que, cada época, cada cultura, produz os seus sintomas. Quando o comportamento social e até mesmo quando havia proibições relacionadas à sexualidade, a histeria passou a ser algo prevalente por ser o sintoma que de alguma maneira ia contra os padrões exigidos. A depressão traz esta mesma ideia por ser uma expressão à resistência da sociedade do consumo, a uma sociedade voltada para exigências extremas, assim como, ter as melhores performances.

A depressão é desencadeada pela combinação biopsicossocial, ou seja, da biologia dos genes, do psicológico e do ambiente que cada pessoa vive. Considerando que herdamos os genes dos antepassados, podemos perceber que o que mudou foi o ambiente e as características da vida que levamos hoje estão relacionadas com o desenvolvimento de depressão:

  • Vida social: é nos exigidos melhor desempenho em várias áreas da vida, tornando-a mais competitiva. Tornar-se o melhor profissional, a pessoa que fala no mínimo duas línguas fluentes, ser a melhor mãe/pai, a pessoa com o corpo mais malhado/forte, que mora nos melhores bairros, a supervalorização da aquisição de objetos (melhores celulares e tecnologias, aquilo que se veste, etc), ser aquele mais bem informado, que está por dentro de todas as notícias do mundo e que ainda tem super fotos postadas nas redes sociais e mais curtidas. Isso tudo entra na conta da extrema exigência gerando sentimento de incapacidade, baixa autoestima, fobia social e isolamento. Cada vez mais as pessoas optam por evitar o contato social para não se sentirem expostas, fracassadas e frustradas, frente tais exigências;
  • Sobrecarga de papéis: quando ocorre o nascimento de um filho, a mãe pode sentir-se incapaz, pressionada e sobrecarregada com todos os papéis que é necessário desempenhar: mãe, dona de casa, esposa, profissional, etc.
  • Sono: Nos anos 60 as pessoas dormiam de 7-9 horas por noite e atualmente dormimos, em média, 6 horas por noite. A falta de horas de sono desregula a liberação de hormônios, como o cortisol e a melatonina, e estes estão associados com a depressão;
  • Sol: Atualmente vivemos boa parte do nosso tempo em ambientes fechados, vendo o sol somente pela janela. A falta de sol produz depressão, como é o caso de alguns países que tem poucas horas de sol no inverno, as pessoas apresentarem a chamada depressão sazonal, sendo a depressão por falta de luz solar.  Nosso corpo precisa de sol para manutenção do nosso relógio biológico e para produzir vitamina D. Já se sabe que os baixos níveis de vitamina D estão associados com a depressão;
  • Obesidade e hábitos alimentares: comemos muito mais que nossos antepassados e consumimos comidas industrializadas, com muita gordura, açúcar e sal. Ao passo que comemos cada vez menos frutas e legumes frescos. Com esse cenário estamos obesos e/ou malnutridos e a obesidade aumenta o risco de a pessoa desenvolver depressão. Além das questões orgânicas de mudança do funcionamento do corpo a obesidade piora a relação entre a pessoa e o seu corpo, causando tristeza, sofrimento e isolamento social;
  • Falta ou excesso de rede de apoio ao se tornar mãe: O excesso de cobrança da rede de apoio ou a falta dele também podem ajudar a mãe exercer o papel de cuidadora, pode trazer sentimentos à tona, que combinados com outras questões fazem com que a depressão se instale;
  • Atividade física: apesar de haver cada vez mais academias, gastamos muito menos calorias que as gerações anteriores gastavam. Utilizamos meios de transportes para ir a qualquer lugar, quando o nosso corpo foi feito para caminhar vários quilômetros por dia. Tentamos compensar esta falta de movimento em 1 hora na academia para gastar muitas calorias e após ficarmos o resto do dia nos computadores. A falta de atividade física contribui para a obesidade e aumenta as chances de se ter depressão. A atividade física libera hormônios e outras substâncias que produzem uma sensação de bem-estar e contribuem para a saúde do nosso cérebro, ajudando a reduzir o risco de depressão;
  • Isolamento da família de origem e amigos: a necessidade de estudar e trabalhar longe de casa afasta cada vez mais as pessoas dos seus ciclos mais profundos. A mudança de cidade ou de país pode trazer isolamento e dificuldade de reconstruir relacionamentos que tragam segurança afetiva e o acolhimento que existe nas relações familiares.

 

As questões levantadas acima fazem pensar que seríamos mais resistentes à depressão se: dormíssemos bem, fossemos fisicamente ativos, tivéssemos equilíbrio financeiro, estivéssemos no peso coreto, vivêssemos cercados pela família e por amigos e se sentíssemos, realmente, orgulho do nosso trabalho. 

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